Incerteza política dificulta recuperação

Incerteza política dificulta recuperação

Diante do quadro eleitoral de incerteza, os investidores têm deixado de movimentar seus recursos, preferindo esperar/adiar investimentos (preferência pela liquidez). Isso pode ser observado, por exemplo, na queda do índice IBOVESPA ao longo do ano, indicando que os agentes estão preferindo a liquidez (manter moeda).

Tal incerteza, longe de ficar restrita aos agentes internos, vem afetando os investidores externos, uma vez que o volume de operações em 2018 na BM&F Bovespa até o dia 22 de agosto já acumulava um saldo negativo de 3.429,48 milhões, como pode ser observado no gráfico “movimentação dos investidores estrangeiros”. Da mesma forma, os dados da conta financeira líquida fornecidos pelo Banco Central Brasileiro (BCB) mostram que, de janeiro a junho de 2018, contabilizou-se uma evasão de 1.174,60 milhões de US$ do Brasil, enquanto no mesmo período do ano passado a conta foi superavitária em 2.267,50 milhões de US$.

Por sua vez, o comportamento do BCB também se alterou, uma vez que ele vem minimizando o uso da política monetária para evitar desvalorizações cambiais, como pode ser lido em sua nota à imprensa em 18/05/2018, na qual afirma que “eventuais impactos de choques externos sobre a política monetária são delimitados por seus efeitos secundários sobre a inflação”.

A saída de capitais, associada ao “novo” comportamento do BCB, tem resultado na desvalorização recente da taxa de câmbio (ver gráfico “taxa de câmbio em relação ao US$”). Por enquanto, essa desvalorização não parece ter afetado fortemente os preços finais dado a elevada ociosidade e as perspectivas ruins de crescimento. Contudo, algumas evidências sugerem um pequeno impacto, com o descolamento dos preços no atacado (medido pelo IPA – M) em relação aos preços ao consumidor; mantida essa tendência, pode haver uma pressão para a elevação dos juros.

Belo Horizonte, 28 de agosto de 2018.