O que podemos aprender com a história das inovações que fizeram a vida moderna possível?
Conheça nossa evolução a partir dos erros e acertos das inovações e empreendedores do passado
Uma resenha do livro “Como chegamos até aqui” de Steven Jonhson.
Que lições podemos aprender com as grandes inovações do passado? Como essas inovações foram determinantes para o desenvolvimento econômico e social da atualidade? Como somos influenciados até hoje por empreendedores visionários, por inovações fortuitas ou por tecnologias que sugiram meramente ao acaso?
Nessa intrigante obra de Steven Johnson, o livro “Como chegamos até aqui: a história das inovações que fizeram a vida moderna possível”, o autor descreve a história e a evolução de invenções e tecnologias que hoje estão onipresentes na vida cotidiana, apesar de serem invisíveis ou consideradas. O autor mostra como os elos entre ciência, empreendedorismo e inovação, que muitas vezes ocorrem por “sorte”, formam a base do fantástico desenvolvimento econômico e tecnológico que observamos na atualidade e seu profundo impacto sobre a cultura e a de nos relacionamos com o mundo e a sociedade (e isso milênios antes da existências das mídias e redes sociais). Ao longo do livro Steven Jonhson descreve tais inovações com um olhar ao mesmo tempo crítico e imparcial, qualidades de certa forma paradoxais e que tornam a obra especialmente instigante.
O autor inicia o livro descrevendo a premissa de sua narrativa, o efeito beija-flor, nome dado ao impacto imprevisível que as inovações de um campo exerce sobre áreas diversas da vida em sociedade, através de inovações tecnológicas e mudanças socioculturais. Essa analogia do beijar flor faz referência ao papel da polinização para a mistura genética que permitiu a evolução não somente das plantas, mas é responsável pela multiplicidade de espécies da atualidade. É exatamente o que ocorre no universo da inovação e da tecnologia: a descoberta do vidro, provavelmente devido a queda de um meteoro no deserto há milênios atrás, foi essencial para o desenvolvimento da medicina moderna, da física quântica e da fibra ótica de alta velocidade que você utiliza no seu videogame de última geração! Assim, uma inovação ou empreendimento, às vezes banal aos nossos olhos, tem um impacto de longo alcance que os próprios inventores nem mesmo sonharam. O livro demonstra as relações entre inúmeras inovações do passado e sua evolução com profundo impacto no desenvolvimento de tecnologias da era moderna.
Outro ponto que se destaca na introdução diz respeito à indissociação entre Ciência, Tecnologia, Inovação & Empreendedorismo, bem como o papel decisivo da atuação de atores públicos e privados no desenvolvimento tecnológico. A obra ainda destaca seu ceticismo e busca por neutralidade ao avaliar a evolução das inovações e seus impactos tecnológicos futuros. Sendo assim o ponto central da obra é discutir a evolução e os processos que levaram ao desenvolvimento de inovações que impactam profundamente a sociedade, se abstendo de julgar se essas tecnologias e seus impactos são positivos ou negativos.
Nos capítulos seguintes o autor faz uma análise histórica de inovações que na perspectiva contemporânea podem parecer triviais, mas que tem profundo impacto em nossa sociedade. A história do vidro, descoberto acidentalmente após a queda de um meteorito há milhões de anos no deserto da Líbia, ilustra bem esse princípio. Essa história parece especialmente importante já que o vidro foi a base para descobertas importantes do microscópio aos telescópios, da fotografia a fibra ótica. Você consegue imaginar a vida moderna sem o vidro?
Em outro capítulo o autor explora a evolução do frio passando pela história do empreendedor Frederic Tudor que, após errar inúmeras vezes, fez uma fortuna exportando gelo dos Estados Unidos para o Caribe e América Latina. No mesmo capítulo apresenta a invenção dos refrigeradores, dos métodos de produção de alimentos congelados e até da fortuita invenção do ar condicionado (um efeito colateral de um novo método de impressão). Tais inovações tiveram profundo impacto sobre o ambiente de trabalho, distribuição de alimentos e expansão da indústria cultural. Vários outros exemplos de inovações são debatidos no livro, relacionadas ao som, a luz, a higiene e ao próprio tempo são debatidas, com ênfase nos seu processo e impactos modernos.
Uma característica recorrente na obra é fazer paralelos com o atual ambiente de inovação e empreendedorismo. Recorrentemente o autor traz para o presente e mostra a operação da “destruição criativa” e todos os desafios por ela impostos. O termo destruição criativa é a ideia de que toda inovação desafia a ordem vigente por propor formas mais econômicas, abrangentes ou eficazes de solucionar problemas sociais. Por essa razão a inovação implica que a criação de algo novo é sucedida pela destruição daquilo que já existe. É a ordem inconsequente e imprevisível do progresso que inspira esperança, medo, paixões e o ódio. Na obra destacam-se vários exemplos de inovações históricas que ao mesmo tempo desafiaram corporações e interesses existentes, mas criaram novos mercados e setores e ampliando a oferta de bens e serviços para a sociedade.
O autor também revela como as barreiras para as inovações podem vir do conservadorismo, como quando o estado cria burocracias, defende corporações e limita o empreendedorismo. Esse seria um papel do estado totalmente diverso do proposto por modelos de inovação que integram o poder público, a iniciativa privada e Institutos de Ciência e Tecnologia. E o livro debate vários exemplos históricos de ações que minaram ou limitaram inovações, quase nunca por interesses altruístas, mas sim por puro e simples corporativismo e egoísmo.
Na obra também se destaca o papel de indivíduos dispostos a assumir riscos para testar ideias, criar negócios e desenvolver novas tecnologias. Esse é o caso do médico “Jonh Leal” que mesmo após a proibição legal de aplicar cloro para evitar uma epidemia de cólera, assim o fez na cidade de Jersey nos USA. Sua ousadia revolucionou a saúde pública e a medicina e poupou milhões de vidas em todo o mundo e ele doou a patente e dedicou sua vida para que mais países adotassem essa medida essencial de saúde pública. Este e vários outros exemplos trazidos demonstram que os empreendedores não se motivam somente pela recompensa econômica, mas também pela vontade de vencer desafios e deixar um legado maior.
Como obra histórica pode-se destacar o valor do livro para mostrar como a busca pela inovação e desenvolvimento tecnológico formam uma rede de causas e efeitos imprevisível, mas de grande impacto social. Para aqueles que querem entender como nossa sociedade pode promover um ambiente propício ao desenvolvimento por meio da inovação e do empreendedorismo, essa é uma obra essencial.
Saiba mais
Johnson, Steven. Como chegamos até aqui: A história das inovações que fizeram a vida moderna possível. Zahar, 2015. 232 páginas.