Como a gestão pode melhorar a qualidade da educação básica no Brasil?
Descubra nesse artigo as práticas e valores associados aos modelos de gestão educacional de maior impacto positivo sobre desempenho no ensino básico
Vivemos um momento de discussão sobre a importância da educação básica para a redução da pobreza, da desigualdade e para
o desenvolvimento do país. E os resultados não tem sido animadores, já que o Brasil está entre os piores no ranking mundial de educação. As causas apontadas para esse problema são múltiplas, bem como as soluções propostas. Mas pouco se fala a respeito do papel dos modelos de gestão educacional sobre o desenvolvimento de nossas crianças.
Um modelo de gestão educacional representa uma forma regular e cotidiana de se administrar as escolas, contemplando a forma de alocar e recursos, bem como os instrumentos e práticas presentes nesse processo. Essa forma de administração fica expressa não somente por meio de regras, mas principalmente por meio de valores e práticas do dia a dia das escolas. E como as escolas são organizações que tem a finalidade formar cidadãos para o futuro, a gestão escolar pode influenciar muito a qualidade e o resultado da educação dos alunos.
Buscando entender o papel da gestão para a melhoria da educação, a Professora Ângela Versiani (PUC-MG) em conjunto com os professores Plínio Monteiro (UFMG) e Sérgio Rezende (PUC-UFMG) fizeram um estudo que contou com a participação de uma amostra representativa de 551 professores de 86 das 187 escolas de rede municipal de Belo Horizonte. A pesquisa tentou identificar quais eram as práticas e valores presentes no cotidiano e compartilhados, de maneira formal ou informal, entre os docentes das escolas de BH. O estudo então relacionou essas práticas ao desempenho das escolas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) por um período de três anos.
Os resultados do estudo apontaram que apesar de existirem formalizações e procedimentos gerais para toda a rede, as práticas do dia a dia e as crenças dos docentes e diretores variavam bastante de escola para escola. No geral, observou-se que a maioria das escolas tinham sua gestão sustentada por valores e práticas de participação, diálogo e de respeito às diferenças.
Ainda sim, foi possível identificar 5 grupos de escolas que partilhavam práticas e valores relativamente homogêneos entre elas, sendo que alguns conjuntos de práticas e valores do modelo de gestão se destacavam naquelas escolas com maior desempenho no IDEB. Naquelas escolas de maior desempenho, a gestão participativa estava mais presente: professores e membros da comunidade tinham uma voz e participação ativa nas decisões e rumos da escola. Nessa escolas também haviam mais mecanismos e incentivos para fazer com que a comunidade e os pais de alunos participassem ativamente da gestão escolar e da vida acadêmica dos filhos. Ainda nessas escolas os professores assumiam mais responsabilidade pelo processo de ensino e aprendizagem, colocando-se de maneira mais pró-ativa perante os problemas e soluções para alcançar uma educação de melhor qualidade.
Os resultados do estudo reforçam que a melhoria da educação precisa passar por reflexões sobre a administração escolar, um debate que vai além do projeto político-pedagógico das escolas. E que essa mudança precisa gerar união entre professores, pais e a comunidade, que devem, em conjunto assumir uma postura colaborativa em prol da melhoria de ensino. Considerando o baixo desempenho escolar no ensino básico na atualidade, esse debate do papel da administração escolar merece atenção e ações urgentes em prol de um futuro melhor para o Brasil.
Escrito por: Plínio Monteiro. Administrador e Professor do CAD/FACE/UFMG. Coordenador do TIME UFMG.
Referência
VERSIANI, Â. F.; MONTEIRO, P. R. R.; REZENDE, S. F. L. DE. Isomorphism and variation of the school management of the Brazilian public elementary school network. Cadernos EBAPE. BR, v. 16, n. 3, p. 382–395, 2018.