A flexibilização prematura do distanciamento social em Minas Gerais, em relação ao padrão que estava sendo adotado no estado, não é recomendada do ponto de vista econômico e social, tendo em vista os maiores custos à atividade econômica e a ausência de efeitos positivos relevantes que superem os impactos da crise.
Aplicamos neste trabalho uma metodologia que articula um modelo epidemiológico a um modelo econômico de dinâmica recursiva com temporalidade trimestral, específicos para o estado de Minas Gerais. Assim, os detalhes de cenários epidemiológicos podem ser utilizados em um modelo econômico e os efeitos na economia estimados ao longo do tempo.
Neste trabalho analisamos os efeitos de três diferentes estratégias de isolamento na economia de Minas Gerais. A primeira se baseia no adotado em MG desde os primeiros casos: “Distanciamento estendido”. O segundo pressupõe um “isolamento parcial”, e o terceiro adota a abolição total do isolamento, “Sem distanciamento”.
Os mecanismos de ajuste do modelo econômico utilizado procuram capturar os efeitos de ajustamento dos setores aos efeitos de perda de fator trabalho e produtividade, estimada no modelo epidemiológico. Há naturalmente um efeito de substituição de trabalho por capital, em especial nos setores que apresentam maior grau de substituição entre esses fatores, uma vez que o fator trabalho torna-se menos efetivo. Mas isso ocorre com a elevação de custos de produção, uma vez que a substituição imperfeita e defasada por capital implica que os setores enfrentarão elevação de custos. A elevada taxa de desemprego sugere que há certa facilidade em conseguir mão de obra, mas com produtividade inferior à que estava ocupada e foi perdida com a pandemia. Assim, um efeito que não pode deixar de ser considerado nas análises é o impacto dos diferentes cenários de isolamento na produtividade da mão de obra e os custos incorridos à produção.
De acordo com nossos resultados, o cenário de “Distanciamento estendido” implicaria uma queda de -1% no PIB de Minas Gerais. O cenário “Sem distanciamento” resultaria em uma queda total no PIB do estado da ordem de -4,0% em relação ao cenário de referência.
Acabar com o isolamento eleva a perda na economia de Minas Gerais em cerca de R$ 50 bilhões de reais. O cenário de “Distanciamento estendido” equivaleria a uma perda de R$ 19 bilhões no PIB de Minas Gerais, enquanto que para o cenário “Sem distanciamento” essa perda seria de R$69 bilhões.
Os setores com maior impacto negativo seriam Serviços e Indústria, sendo que o cenário sem isolamento apresentaria a maior queda, seguida do isolamento parcial, por fim, do isolamento estendido. Em média, o impacto negativo no cenário de distanciamento social parcial seria 1,1 vezes o do cenário de “Distanciamento Estendido”. Quando essa relação é analisada entre os cenários “sem distanciamento” e “distanciamento estendido”, essa relação é de 1,8.
Cabe aos diferentes entes federativos (federal, estadual e municipal) a articulação de políticas governamentais para a manutenção e recuperação da renda e do emprego, de forma a amenizar os impactos na vida das pessoas, na economia e na saúde.
Estudos com diversos tipos de modelos, bem como a análise de dados da epidemia, tonam claro que os problemas econômicos (perda de renda, emprego, arrecadação de impostos) derivam preponderantemente da pandemia global da COVID-19, e não das medidas de isolamento. Em nenhuma situação real da pandemia no mundo se verificou menor impacto da crise com o relaxamento de medidas de isolamento.
Em artigo, seis pesquisadores da faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (Alves, et al., 2020), listam nove argumentos com a defesa de que ainda não é o momento de flexibilizar o isolamento social em Minas Gerais, pelas razões sanitárias. De acordo com os nossos resultados, e com a experiência de diversos países e regiões no mundo durante a atual pandemia, a flexibilização prematura do distanciamento social em MG não é recomendada também do ponto de vista econômico e social, tendo em vista os maiores custos à atividade econômica e a ausência de efeitos positivos relevantes que superem os impactos da crise.
O isolamento traz custos econômicos, mas abrir mão da única estratégia factível para as diversas regiões do país – o isolamento social – traz custos ainda maiores e mais deletérios tanto para a saúde como para o país. Não existe dilema entre saúde e economia: podemos recuperar a economia, mas não as vidas perdidas.